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Eu quero votar pra presidente - os 40 anos das Diretas Já!

Caminhos da Reportagem

No AR em 28/04/2024 - 22:00

O ano de 1984 assistiu às maiores manifestações populares no Brasil desde o período pré AI-5 - o ato institucional que fechou o Congresso e aumentou a repressão da ditadura civil-militar (1964-1985). O ápice da campanha Diretas Já!, que pedia a volta das eleições diretas para presidente da República, aconteceu em abril: milhares foram aos comícios da Candelária, no Rio, e do Anhangabaú, em São Paulo.

Naquele ano, o país já amargava duas décadas de ditadura civil-militar e vinha passando pela abertura “lenta, gradual e segura” iniciada no governo Geisel (1974-1979), com a revogação do AI-5, em 1978, e a Anistia aos presos e perseguidos políticos em, 1979, no governo Figueiredo (1979-1985). Apesar dos acenos, a redemocratização parecia distante. A insatisfação popular era agravada por uma inflação que fechou 1983 na casa dos 160% ao ano, corroendo o poder de compra do Cruzeiro e enterrando de vez um dos pilares de sustentação do regime, o “milagre econômico” dos anos 1970.

Os ex-vereadores Reginaldo Silva (esq.) e Severino Farias, de Abreu e Lima, PE, em frente ao monumento que celebra o primeiro comício por eleições diretas, em 1983.
Os ex-vereadores Reginaldo Silva (esq.) e Severino Farias, de Abreu e Lima, PE, em frente ao monumento que celebra o primeiro comício por eleições diretas, em 1983. - Divulgação/TV Brasil

O primeiro ato de rua pedindo eleições diretas aconteceu na recém-emancipada Abreu e Lima, em Pernambuco. Na época com cerca de 50 mil moradores, a cidade viu os então vereadores Reginaldo Silva e Severino Farias subirem em um caminhão e falarem para cerca de 100 pessoas. O medo da repressão ainda era presente, e o comício tinha até rota de fuga, como conta Reginaldo: “ Todo mundo tinha medo de ser preso, inclusive a gente, né? A gente tinha consciência do que podia acontecer. A gente pode ser preso, chegar lá em Recife, e até que o advogado chegue pra soltar a gente, a gente já levou um bocado de porrada”.

Walter Casagrande Jr. veste a cor das Diretas e mostra a camisa da Democracia Corinthiana: “os generais ligavam lá no Corinthians, diziam para não colocar a palavra ‘democracia’ na camisa”
Walter Casagrande Jr. veste a cor das Diretas e mostra a camisa da Democracia Corinthiana: “os generais ligavam lá no Corinthians, diziam para não colocar a palavra ‘democracia’ na camisa” - Divulgação/TV Brasil

As manifestações foram ganhando força e a pauta das Diretas ganhou aliados. Além de lideranças políticas de diferentes partidos, o movimento aglutinou artistas, intelectuais e esportistas. Walter Casagrande Jr, então um jovem atleta do Corinthians, vivia desde 1982 a experiência de autogestão entre atletas e comissão técnica, que ganhara o nome de “Democracia Corinthiana”. Junto de Sócrates, Vladimir e outros expoentes do movimento, buscava expressar sua posição política, e uma das formas de fazer isso era vestindo a cor das Diretas: “Você não pode colocar amarelo no Corinthians, mas a gente colocava joelheira, tornozeleira ou uma camisa na hora da entrevista, ou quando a gente saía junto. Estava sempre com camisa amarela ou uma fitinha amarela ou alguma coisa assim”.

A atriz Lucélia Santos militou pela anistia de presos políticos e participou das Diretas Já, que ela descreve como uma “confluência de energias”.
A atriz Lucélia Santos militou pela anistia de presos políticos e participou das Diretas Já, que ela descreve como uma “confluência de energias”. - Divulgação/TV Brasil

Outra personalidade que aderiu às Diretas foi a atriz Lucélia Santos. Famosa pelo papel na novela A escrava Isaura, Lucélia também era bem conhecida pela SNI, órgão de espionagem da ditadura, que vigiava sua atividade de militante junto à Anistia Internacional. Para ela, o movimento atraiu muita gente que não estava diretamente envolvida com política: “Ali foi uma confluência de energias positivas, onde a arte, os artistas, eram parte efetivamente. Eu por acaso tinha partido, mas eu não sei se Christiane [Torloni], Maitê [Proença], a própria Fafá [de Belém], tinham um partido. Elas não eram ativistas, mas eram artistas que se comprometeram com a história do país”.

O forte apelo popular e o empenho incansável do deputado Ulysses Guimarães (PMDB/SP), à Emenda Constitucional 05/1983, apelidada Emenda Dante de Oliveira - por causa do deputado que a propôs - não foram suficientes para sensibilizar o número necessário de congressistas, e ela não teve os votos necessários na Câmara.

Apesar da derrota, a campanha das Diretas Já abriu caminho para o fim dos governos militares com a eleição (indireta) da chapa Tancredo Neves - José Sarney, em 1985. Também se tornou um marco que precedeu outras manifestações de massa no país.

As histórias de famosos e anônimos em meio à abertura política, e suas reflexões sobre a consolidação da Nova República, vão ao ar neste domingo (28), às 22 horas, no Caminhos da Reportagem: Eu quero votar pra presidente - os 40 anos das Diretas Já!

Ficha Técnica:
Produção e reportagem: Thiago Padovan
Apoio à produção: Ana Passos (RJ), Paula Aguiar (TV Pernambuco)
Apoio operacional à produção: Acácio Barros, Ana Graziela Aguiar, Lucas Cruz
Reportagem cinematográfica: Alexandre Nascimento, JM Barboza, William Sales
Apoio à reportagem cinematográfica: Cláudio Caça (TV Pernambuco), Sandro Tebaldi (RJ)
Auxílio técnico: João Batista, Jone Ferreira,Wladimir Ortega
Apoio auxílio técnico: Cláudio Tavares (RJ)
Motoristas: Aguinaldo Santos Silva, Sérgio Zambrotti Bezerra
Edição de texto: Leonardo Zanon Catto
Edição e finalização de imagem: André Eustáquio, Márcio Stuckert
Assessoria: Maura Martins
Arte: Caroline Ramos, Alex Sakata
Trilha sonora: Ricardo Vilas

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Criado em 25/04/2024 - 12:05

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